Além do Jogo

O blog do Marcelo Damato

O retrato da vergonha

Posted by Marcelo Damato em sábado, 26 janeiro 2008

O jornal Estado de S.Paulo traz hoje um retrato do continuísmo nas federações de futebol do Brasil.

O campeão é o presidente da Federação de Roraima, José Gama Xaud, no cargo, pasme, desde 1975. Ele assumiu dois meses depois Pelé dar adeus ao futebol, no ano em que Lula se filiaria ao sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e um antes da estréia de Zico pela seleção brasileira. O presidente da República era Ernesto Geisel, no poder havia menos de um ano. Já houve seis presidentes desde então, dois deles reeleitos. Apenas 14 anos depois de sua posse o Território de Rondônia foi transformado em estado.

A média de tempo nos cargos é de 11 anos. Dos 27 presidentes, 14 assumiram o cargo no século passado. Dos demais 13, pelo menos três assumiram depois que três deixaram os cargos por motivos extraeleitorais. Apertado pelo Ministério Público, Eduardo José Farah renunciou em São Paulo. No Rio, Eduardo Viana morreu e no Paraná, Onaireves Moura está preso – desde 6 de novembro. Tirando esses três, a média sobe um ano. Em dez estados o presidente da federação ocupa a cadeira há mais de 15 anos.

Dos 27, sete já estenderam o mandato até 2014 e mais 17 deverão fazê-lo.  Como faltam seis anos até a Copa, o tempo médio nacional de ocupação pode chegar a 17 anos.
Não é à toa que o Estatuto do Desporto, que limita as reeleições está parado no Congresso. Xaud diz que “o futebol cansa”. Mas é mais provável que o futebol esteja cansado dele.

8 Respostas to “O retrato da vergonha”

  1. Denilson Martins said

    Uma vergonha, tem que aplicar o princípio da hierarquia das Leis, pra qualquer cargo executivo no país, preenchido por meio de eleições, a máximo permitido é uma reeleição.

    Ok, sei que as federações são entidades privadas, mas mesmo assim, se propõem sem fins lucrativos, e de interesse público né?
    Além disso, pra usar o nome do Estado, do País, acho que deveriam ser estatizadas.
    Federações e confederações precisavam estar sob o comando do aparelho do Estado.
    Prefiro idéias de Keynes as idéias de Bob Fields. ushuahuashauhasuhasuas
    Mais um detalhe, por que apagou o post com a foto dos bad boys?

    Concordo contigo, Denílson, Dois mandatos está mais do que bom. E não deveria poder se candidatar nunca mais
    Não concordo com estatitzação. Sei que a excessiva privatização é muito ruim, mas a estatização também. O que deveria ahver é ampliar a democracia das federações, estendendo o voto não só a clubes, mas a atletas, árbitros, associações de torcedores, mas fundamentalmente aumentando muito a transparência.
    Sobre o post dos Bad Boys, eu o apaguei por consideração ao Lance. O diretor de Redação só soube da imagem ontem à noite, a achou inadequada, e me avisou que iria tirá-la do ar no Lancenet. Então eu tirei daqui também. Pareceu-me que não deveria mantê-la no ar se o próprio Lance a tinha considerado que não deveria ficar. Você acha que fiz certo ou errei?

  2. Denilson Martins said

    Desculpe, esqueci de informar que nos cargos eletivos públicos do executivo, isto é aplicado, porque pra presidente da república, só é permitida uma reeleição, portanto, tudo que estiver abaixo dele, também só podem ter uma reeleição.

  3. JoaoBittar said

    Concordo totalmente Denilson.
    Essa palhacada que se chama de “processo eleitoral” nos clubes, federacoes, confederacoes esportivas, especialmente as do futebol eh a responsavel por todas as muitas mazelas do futebol profissional brasileiro. Pra comecar, sao ” amadores” que trabalham “por amor “, isto eh : tudo, menos profissionais.
    Esse sistema corrupto como nao poderia deixar de ser, perpetua a corrupcao e a impunidade.
    Uma tragedia, na verdade.
    Por outro lado, se sabe como se pode mudar as coisas. Mudando a legislacao relativa a isso.

  4. Filemon said

    Em Goiás, assim como no Rio, o tempo também se encarregou de promover a renovação. Wilson da Silveira, que comandava a Federação Goiana de Futebol desde 1989, morreu no ano passado.

    Mais um então, Filemon. Daqui a pouco isso vai começar a se tornar mais frequente. Tem presidente que já deve estar se mumificando no poder.

  5. Denilson Martins said

    Acho que se eles tiraram do ar, vocês fez o certo, porque respeitou a decisão dos editores de lá.

    Mas me responda duas coisas:

    Por que saiu de lá?

    Acha que a patrulha sexista sectárias, que a imprensa exerce não é algo nefasto, sendo o futebol uma manifestação cultural popular?

    Só pra justificar, é que acho desonesta as ofensa preconceituosas que a imprensa sensacionalista tanto imputa aos sãopaulino, nós não gostamos, por que a imprensa não respeita o torcedor do São Paulo?

    Denílson, eu saí de lá porque meu ciclo acabou. Fiz muitas coisas de que me orgulho e as novas prioridades me interessavam menos. Mantenho a coluna porque entendo que ela é dá uma outra visão para os leitores.
    Não concordo que a imprensa desrespeite os sãio-paulinos. O que existe sao alguns jornalistas que às vezes fazem isso. E isso se passa com todos os clubes. Há jornalistas que o São Paulo, outros que odeiam o Corinthians, o Palmeiras. Na maior parte do tempo, eles se controlam, mas às vezes escorregam. Há jornalistas que querem causar impacto, não importa sobre qual time e de qual maneira. fazem elogios exagerados e críticas exageradas.
    Generalizar é sempre muito complicado, porque os valores de cada pessoa são em boa medida individuais.

  6. Poxa, minha gente, quanta má vontade com essas pessoas que dedicam suas vidas ao engrandecimento do esporte nacional!
    Pessoas que sacrificam suas vidas – imaginem vocês que muitos deles sequer têm tempo para trabalhar! – e dedicam seu tempo ao esporte.
    É tanto desprendimento, tanta dedicação, tanto amor, que eu fico até constrangido em comentar.

    Mas há uma compensação para tanta entrega: por obra dos deuses comovidos com tudo isso, essas pessoas têm bastante sorte no lado financeiro de suas vidas.

    Ainda bem, né? Pelo menos isso para compensar um pouco do muito que entregam.

    Tá bom, tá bom, foi “maus”. O diabo é que eu não sei se choro ou dou risada.

  7. Bom, essa coisa de “dedicação de uma vida” a uma entidade esportiva não vem de hoje. É velha.

    Podemos dizer que já temos reinados dentro do Brasil.
    O clã Havelange, por exemplo, domina o futebol brasileiro desde a década de 50. O imperador primeiro, João, passou cetro e coroa depois de breve intervalo para ajustes internos, para seu “step” filho, Ricardo, fiel continuador do clã. Seu filho, por sinal, é Havelange e não Teixeira, em curiosa inversão de papéis, totalmente atípica não só em nossa sociedade patriarcal e machista, como também em outras, mais evoluídas, supostamente ou não, que essa nossa.

    Não ficarei surpreso se lá por 2018 ou 2020, Ricardo, o segungo Havelange, passe cetro e coroa para seu filho, que virá a ser o terceiro. Por volta, ou até antes, de meados desse 21o. século, teremos essa dinastia completando um século no poder absoluto.

    Esse resto todo, esse rebotalho todo, é irrelevante. Isso é uma Hidra de Lerna falsificada, made in Taiwan ou Ciudad del Este, e a essa basta cortar a cabeça mais alta. Feito isto, as demais 27 cabeças apodrecerão e cairão ao chão. É difícil, porém, chegar à cabeça mais alta: dizem que o bafo que dela emana é mortífero.

    Você acha mesmo, Emerson, que se o Ricardo Teixeira caísse, grande parte desses cartolas naõ se comporiar com o sucessor? E, aliás, como alguém poderia chegar ao poder sem apoio deles, com a atual estrutura eleitoral? Você está muito otimista, hehe.

  8. Desculpem pelos excessos, mas, terminando: qual a diferença que há entre os parlamentares que se perpetuam via filhos, netos, sobrinhos, amantes, esposas & assemelhados e essa cambada de dirigentes esportivos?

    Como mudar a legislação para que vá contra esse pessoal, se aos próprios parlamentares interessa sua continuidade? Mesmo porque, dela se alimentam para sua própria perpetuação.

    Aliás, como mudar alguma coisa a sério com um parlamento viciado e vilipendiado pelo Pacote de Abril?
    Não custa lembrar que esse parlamento não é representativo, muito menos na sua câmara “alta”, mero reduto de velhos amigos, velhos em sua maioria. Nada contra os velhos, pelo contrário, visto que já estou entrando para essa turma não tarda muito.

    Relembrando: representatividade dos estados mais desenvolvidos cassada; terceiro senador; a excrescência nojenta e imoral dos suplentes, que quando não passam de meros endinheirados, são filhos e assemelhados.

    Etc, etc, etc…

    Sorry. Bom domingo. Pelo menos hoje é dia de Majestoso e isso é sempre algo especial.

    Claro, não há diferença nenhuma, Emerson. Até porque muitos cartolas são políticos. Sobre a representatividade, além da redistrbuiição de cadeiras na Câmara. Mas será que isso melhora? O Rio é um dos estados com mais parlamentares listados em escândalos em geral. E foi em São Paulo que se engendrou a privataria e o mensalão. Reconheçamos, a culpa é nossa por pô-los lá e depois deixarem-nos fazer o que querem.

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